Giulio Bonanno Lage
Durante a minha infância, eu fui um cultivador de sonhos. Tinha um caderno pequeno para fazer planos e desenhos que refletiam como eu idealizava meu futuro. O famoso “o que ser quando crescer”. Agora confesso que, na vida adulta, a maioria dessas aspirações foram dissipadas. Tive que escolher uma para seguir em frente em busca do sucesso e de realizações: a de ser cientista.
Como isso começou? Eu não tenho parentes cientistas. A maioria é médico ou comerciante. Talvez isso seja produto de alguma abdução alienígena, mas eu prefiro acreditar que fui profundamente influenciado pelas mídias de comunicação. Programas de TV, revistas, filmes e video games sempre fizeram parte da minha vida. Por meio deles, sempre buscava duas coisas: aprendizado e inspiração. Lembro-me de assistir por horas ao canal Discovery Kids e conhecer um pouco mais sobre planetas e dinossauros. Foi um jeito de perceber como o nosso universo é formado por um monte de pecinhas encantadoras, prontas para serem descobertas e encaixadas.
Ao longo dos anos, essa admiração não parava de aumentar. Mesmo pensando também em ser médico, advogado ou cineasta, o que me movia mesmo era a curiosidade. Eu gosto de correr atrás, perguntar, procurar um sentido para as coisas (ou um novo ângulo para admirá-las). Entrei para o curso de Ciências Biológicas da UFMG buscando manter vivo esse espírito de navegador.
Entretanto, percebi que a ciência não era algo tão colorido assim. Na verdade, nem os contornos eram tão bem definidos. Ainda mais no Brasil, onde a profissão de cientista não é regulamentada. Fiquei confuso quanto ao mercado de trabalho, ao modo de produção, às qualificações… A situação piorou quando conheci muitas pessoas que se desiludiram e foram seguir algo que, segundo eles, “dava mais dinheiro”; ou que simplesmente “fosse mais garantido”.
O pior é que boa parte dos professores – que também eram pesquisadores – não colaboravam com uma visão muito otimista do ofício. Pareciam conformados em ter que cumprir protocolos, avaliar dissertações e redigir artigos como qualquer outro figurante do filme “Tempos Modernos”, de Chaplin. Claro que havia exceções, mas a impressão geral que estava sendo construída era essa.
Em um expediente típico, guiando uma excursão de crianças, passei a enxergar como eu estava cumprindo para elas o mesmo papel que o Discovery Kids (ou a Turma da Mônica, a Revista Recreio, o filme do Jurassic Park etc) assumiu na minha infância. Um papel cheio de responsabilidade, diga-se de passagem. Dali poderia sair novos aspirantes a cientistas que correriam o mesmo risco da desilusão que eu.
Compreendendo essa responsabilidade, resolvi direcionar a minha graduação para o campo da divulgação científica. Claro que continuo pretendendo realizar pesquisas, mas tentarei conciliar ambos. Com o tempo, vi que sair por aí pesquisando migalhinhas só para aumentar o meu currículo Lattes não era tão gratificante quanto contribuir para a formação de mentes inspiradas e ativas, prontas para elaborar perguntas que deixariam o Stephen Hawking intrigado. Delírio?
Graças à divulgação científica, eu acredito plenamente nisso. A ciência não dista muito da arte quando se trata de entender quem somos ou pra onde vamos. Usam métodos diferentes, mas podem trabalhar juntos e alcançar feitos revolucionários. O que seria de Darwin sem a literatura? O que seria de Da Vinci sem a geometria? O que seria da descoberta sem a comunicação? Por isso, cientistas, vamos cumprir nossa missão e celebrar o papel da divulgação!