Marte: avanço tecnológico ou desatino coletivo?

Ilustração para o blogA utopia de habitar um outro planeta pode estar bem próxima de ser realizada. Um grupo de cientistas espanhóis do Instituto de Ciência de Materiais de Madrid (CSIC) desenvolveu uma câmara para simular o ambiente de Marte e reproduzir as condições do planeta. Segundo José Angel Martín-Gago, principal dirigente do projeto, “Marte é um bom lugar para desenvolver conhecimentos sobre planetas similares a Terra” além de ser “o objetivo de muitas missões da NASA e da ESA (Agência Espacial Européia)” há anos.

O que partiu de aplicações teóricas tem tudo para ser empregado, na prática, pelas agências espaciais governamentais ou privadas que almejam realizar estudos sobre Marte. Este é o caso da curiosa instituição colaborativa e sem fins lucrativos, Mars One. Seu idealizador, o engenheiro holandês Bas Lansdorp, planeja o envio de expedições tripuladas ao planeta, sem previsão de volta, a partir do ano de 2025, com o objetivo de colonizá-lo. O projeto é orçado em seis bilhões de dólares e recebeu mais de 200 mil inscrições de voluntários no final do ano de 2013.

O ambicioso plano vem instigando indivíduos de dezenas de países. A ambição do Homem de descobrir e dominar novos territórios é histórica. Não é à toa que o projeto de Mars One cita Cristóvão Colombo, Marco Polo e Apolo 11.

Procurado, o professor Ricardo Poley, especializado em simulação e inteligência artificial do departamento de Engenharia Mecânica da UFMG, demonstrou ceticismo: “o projeto não é passível de realização com a tecnologia existente nos dias atuais.”. O professor Poley enfatizou a incerteza da viagem: “Para dar uma idéia do desafio tecnológico, o lançamento de satélites, que é uma tecnologia plenamente dominada por alguns países possui uma probabilidade de fracasso da ordem de 7%. A última viagem à Lua foi feita em 1972, ou seja, faz mais de 40 anos que ninguém foi capaz de voltar até lá. A menor distância da Terra a Lua é de aproximadamente 360 mil quilômetros. A menor distância entre a Terra e Marte é de aproximadamente 55 milhões de quilômetros. Ou seja, Marte está no mínimo 152 vezes mais distante da Terra que a Lua”.

Apesar disso, Poley aponta que o “o projeto é um exemplo prático da aplicação de tecnologias de redes sociais para arrecadar fundos para um projeto ambicioso”. Para quem quiser aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, o professor indica o texto “Mars One: Exciting Adventure or Hoax?”, do químico Harry Keller, que enumera as problemáticas da radiação, condições físicas e psicológicas da tripulação e obtenção de água da viagem espacial.

De qualquer forma, a organização Mars One vem recebendo credibilidade e apoio de grandes nomes de cientistas contemporâneos, como o Dr. Gerard’t Hooft, vencedor do Nobel de Física de 1999.

Enquanto o ano de 2025 não se aproxima, o mundo inteiro, movido por curiosidade e expectativa, volta sua atenção à Mars One à espera de um marco histórico do progresso ou a comprovação de uma bad trip* coletiva.

 

 

*bad trip: gíria equivale à expressão em português “viagem ruim” e é uma alusão aos efeitos indesejados decorrentes do uso de alucinógenos.

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Ficha técnica:

Entrevistado: Ricardo Poley (Lattes)

Departamento de Engenharia Mecânica/UFMG

Entrevista realizada no dia 09/05/2014, por Deize Paiva.

Ilustração: Luiza Carvalho

Edição: Juliana Botelho

 

Mais informações sobre o projeto Mars One neste vídeo e pelo site oficial em inglês.

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